A felicidade feito uma cesta de três pontos

Semanas atrás, com um velho companheiro de profissão, eu relembrava histórias dos lugares onde trabalhei, os momentos em que, para aliviar a tensão de um ofício em que o stress é ingrediente principal da rotina, homens feitos se permitiam ser moleques de escola. E daqueles que ficam depois da aula na sala da diretora.

Durante mais de quatro anos apresentando o programa CBN Brasília, uma de minhas diversões preferidas era arremessar bolinhas de papel no operador de áudio Bebiano Nunes, um dos melhores profissionais da área técnica do rádio com quem trabalhei.

E a diversão dele era a mesma: devolver em cima de mim as mesmas bolinhas de papel.

Tudo isso com o programa no ar.

Certamente os ouvintes nunca notaram, mas quantas vezes eu, falando ao microfone, levei uma bolada na testa, no nariz, na orelha. O mesmo acontecia com ele, tendo que manter a rádio no ar sendo bombardeado pela minha, modéstia à parte, boa mira.

Havia até comemoração: acertar a testa e o nariz do outro era como marcar uma cesta de três pontos no basquete.

Rindo da lembrança, pensei na felicidade, se ela é uma coisa inteiriça, única, uma cidade a que se chega. Ou se é algo dividido, que vem e vai de forma espaçada, uma estrada que passa por várias cidades e nunca chega a uma em particular.

Acho que fico mesmo com as últimas hipóteses, que constroem a minha certeza de que a felicidade pode muito bem ser acertar a testa do colega de trabalho com uma bolinha de papel.

E comemorar como se houvesse feito uma cesta de três pontos.
*
Do livro As Estranhas Réguas do Tempo (Multifoco, 2014. Esgotado)

4 comentários em “A felicidade feito uma cesta de três pontos”

  1. Rosy Almeida

    Acho que a felicidade não é a estrada, nem o lugar onde se pretende chegar, é simplesmente o prazer de caminhar!

  2. Alexandre Brandão

    Jamais irei a lançamento de livros do André e do Ádlei (se for um dos dois, então), vai que comecem a me atacar. Tô fora, e sou ruim de mira.

  3. Ádlei Carvalho

    Hehehe, muito bom! Sempre fui craque no arremesso de bolinhas de papel. Inclusive, cheguei a desenvolver novos tipos mais desafiadores de arremesso. 🤣

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