A seleção da Argentina me lembra aquele sujeito que passou uns tempos mudado, diferente do jeito que todo mundo conhecia. Sempre andou de bermudas, mas do nada apareceu enforcado numa gravata e engomado num terno. Viu que não era mesmo a dele e tirou a bermuda outra vez do armário. É como se houvesse pretendido ser alguém que ele não é nem conseguirá ser. Desistiu, voltou a ser o cara que todos conheciam.
Não sei exatamente se a Argentina estava tentando imitar o futebol europeu, mas sei que pelo menos nas duas primeiras partidas da Copa jogou o autêntico futebol sul americano, detentor de nove títulos mundiais. Joga e deixa jogar, favorecendo com espetáculo aquele que deve ser o principal objeto de agrado de uma seleção: o público, o torcedor.
Sem nenhuma cerimônia, a Argentina mostra com exemplos que pode ser campeã do mundo, enquanto outras seleções – e é claro que me refiro à nossa – escondem a mediocridade atrás do enfadonho e superficial discurso da união do grupo, da raça, da determinação. Coisas que aliás não faltam também no time de nossos vizinhos.
Enquanto o Kaká se arrasta em campo mostrando que talvez não devesse nem ter sido convocado, o Messi prova a cada bola que pega e lança porque é o melhor jogador do mundo atualmente. Por sua vez, o Iguaín vai balançando as redes, ao passo que o Luiz Fabiano só consegue fazer o mesmo em comercial de cerveja. Aliás, nossos jogadores são artistas. Da Brahama, da Gilette.
A não ser que a imbecilidade de uma rixa fomentada pela mídia esteja mesmo acima do gosto pelo bom futebol, é impossível não aplaudir como a Argentina está jogando. Na verdade, bater palmas e lamentar logo depois o fato de nossa seleção, que sempre usou bermudas, andar ultimamente sisuda e vestindo um surrado terno marrom.
É isso mesmo. Sempre que meu time perde, ouço do meu pai, Colorado doente: E isso que essa indiada ganha por mês o que não consigo ganhar em um ano, tchê!
Com a Seleção é um pouco pior, pois, depois de uma derrota, se não tiver sido suada, a gente fica pensando nos milhões de torcedores pobretões, que vibram e acreditam sinceramente que os moleques estão ali prá jogar futebol, prá honrar a camisa.
Não tem gesto mais marcante de descaso com a amarelinha do que o Roberto Carlos ajeitando a meia, com bola na área.
É uma pena, a gente sempre acha que pode mais.
Agora até aí vai a minha capacidade. Torcer pela Argentina, não, nem que a vaca tussa!
Abraços,
Muito válida a ideia de que nossos jogadores são artistas da Brahma e da Gillette. E ganham tanto, enquanto um professor …
Muito bom. O detalhe é que o corte do terno é projetado por estilista. Caríssimo, mas sem conforto.
Muito boa andré! Ótima comparação! Espero que ainda haja tempo de nossos jogadores colacarem a bermuda e jogarem um futebol bonito!