11 do 1: 30 anos do Rock in Rio (o primeiro, é claro!)

Meninos, eu vi!

E ouvi.

E dancei, e me esbaldei e fiquei todo cagado do lamaçal que virou aquele terreno lá nos cafundó do cafundó que sempre foi Jacarepaguá. E assim, imundo, maltrapilho, cheguei de manhã em casa no dia seguinte pro horror dos meus pais, apavorados com meu sumiço, pois houve época em que não havia celular para rastrear os filhos. E de manhã, imundo e feliz, cheguei igualmente nos outros dois dias de show a que fui assistir.

Jamais vou me esquecer do Fred Mercury há menos de cem metros de mim cantando We Will Rock You; do David Converdale girando que nem um doido o pedestal do microfone; do Rod Stewart chutando bola pro alto pra cair na platéia; do Iron Maiden e do AC/DC, bandas ainda tão jovens na época, enlouquecidos e enlouquecendo; da louca da Nina Hagen; das viadagens oitentistas do B`52; do Lulu Santos praticamente ainda um moleque, bem longe de ser um coroa chato; do Hebert Viana de óculos e magrinho; do Barão com o Cazuza e o Cazuza anunciando que o Tancredo havia sido eleito e que acabara de acabar a ditadura militar no Brasil. Não, o Legião Urbana não foi, era ainda uma banda pouco conhecida que havia lançado o primeiro disco alguns dias antes.

Meninos, eu vi!

E ouvi. E me acabei naquele janeiro cada dia mais distante, e imundo de lama, insone e feliz (feliz demais), assisti a bem mais do que um festival de Rock (95% mais Rock do que hoje): assisti à história acontecer.

Rock in Rio 2

 

Fotos do acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do Jornal do Brasil - CPDoc JB http://www.jb.com.br/rock-in-rio-2011/memoria/
Fotos do acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do Jornal do Brasil – CPDoc JB http://www.jb.com.br/rock-in-rio-2011/memoria/

 

 

Eu sou Baga

Dezenas de pessoas foram mortas nos últimos dois dias na cidade de Baga, na Nigéria, a principal economia africana. Segundo o jornal Britânico The Guardian, o massacre foi praticado por militantes islâmicos de um grupo identificado como Boko Haram. Ainda de acordo com o jornal, essas pessoas eram civis, moradoras da região. Como a covardia é característica imprescindível à barbárie, entre os mortos estão crianças e mulheres. No último ano, dez mil pessoas foram mortas em ações semelhantes praticadas pela insanidade.

Eu sou Baga.

Porque a estupidez merece nossa indignação nos cinco continentes, e não apenas na Europa ou na América.

Pius Utomi Ekpei/AFP/Getty Images
Pius Utomi Ekpei/AFP/Getty Images

http://www.theguardian.com/world/2015/jan/08/boko-haram-nigeria-baga-town-attack-kill-civilians

Fumacê, lembrança do verão carioca

fumace

A infância é uma das fases da vida mais cercada de símbolos materiais que a representam. Todos temos na lembrança uma tampinha de refrigerante, um álbum de figurinhas, a boneca da Estrela ou o carrinho de autorama que nos remetem aos primeiros anos.

No meu caso, a estes acrescento o carro do fumacê. Para quem não está ligando o santo ao milagre explico que é um pequeno caminhão ou pick up com uma espécie de canhão na carroceria,   que passa pelas ruas borrifando remédio para matar mosquitos.

Reside nele uma das principais lembranças dos verões cariocas de minha meninice: o barulho do equipamento lá fora, passando pela rua do subúrbio carioca e, instantes depois, o cheiro enjoativo do inseticida entrando pela casa. Aliás, a recomendação era que as pessoas deixassem as janelas abertas justamente para que o remédio entrasse e desse cabo da mosquitada. Estranha configuração a da minha memória de verão: calor, praia, picolé da Kibon, banhos de mangueira e…fumacê jogando inseticida.

Eis que hoje, às 5h30, o que ouço romper a quietude do fim da madrugada no Planalto Central, 1.200 km distante do subúrbio que ainda me dói a alma? O bizzzzzzzzzzzzzzzzzz irritante seguido em menos de dois minutos pelo cheirinho de inseticida. Mantive abertas as janelas, que assim já estavam por causa do calor que também assola Brasília. Provavelmente, o alvo é o mosquito da dengue. O cheiro, e mesmo o barulho, estão mais fracos do que há 40 anos, ao contrário da minha memória, ainda tão intensa.

Não sei se o fumacê resolve mesmo para matar mosquito, mas serve bem pra dar saudade em homem grande que ainda espera ter muita vida pela frente.

Que triste, Wolinsky! A estupidez continua

Foto: Alexander Klein/AFP
Foto: Alexander Klein/AFP

Leio no portal G1 que o francês de origem tunisiana Georges Wolinski foi um dos mais importantes cartunistas do século 20.

Nos traços de gente como Jaguar e Ziraldo, segundo a turma do desenho, encontramos a influência de Wolinski, morto hoje em Paris, no atentado à redação da revista Charlie Hebdo.

Mas de acordo com as outras informações, a atuação do cartunista não se limitou a se debruçar na prancha sobre uma folha em branco com um lápis ou lapiseira na mão. Foi também um dos mais importantes ativistas do lendário maio de 68, quando estudantes tomaram a cidade luz protestando e pedindo reformas na educação.

Ora, se partirmos do princípio de que o conhecimento liberta, lutar por melhorias na educação é, em última instância, lutar também pela liberdade, e isso, diga-se de passagem, fazia-se e muito em maio de 68, inclusive no Brasil.

E essa palavra – liberdade – permanece incomodando muita gente no mundo inteiro, e sem querer ser repetitivo, inclusive no Brasil.

É bem mais triste que irônico o fato de que Wolinski foi provavelmente vítima da estupidez dos que, como há quase 47 anos, continuam sem aceitar o direito que o semelhante possui de dizer o que pensa e o que sente.

 

 

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