Poema em vídeo

Este é meu primeiro vídeo declamando. Fará parte de um projeto maior comAmneres Santiago De Brito Pereira e Fabrizio Morelo, a ser anunciado em breve. O poema é sobre a quadra em que moro, em Brasília, e foi escrito há quase cinco anos. Parte das imagens e a edição são do Thiago Rodrigues. Tomara que vocês gostem.

EU SEMPRE VOU MORAR NA 405 NORTE

Dona vizinha me para e conta
de quando chegou aqui em 1980,
dos filhos formados, que cresceram
brincando na portaria.

As sombras verticais da tarde
também seguirão minhas filhas até o infinito, eu comento,
e dona vizinha ainda me conta que os dela
nunca deixaram de correr na portaria da memória,
que até hoje brincam na portaria da lembrança
(dona vizinha tem nos olhos uma saudade
que vai do primeiro ao último dos pilotis do bloco.)

Eu gosto da dona-de-casa
que passa com hora marcada
para fazer a unha,
da estudante que some no arvoredo
a caminho da universidade,
de quem veio do Maranhão
do Piauí
e nunca mais voltou.

Há sempre lua alta que a madrugada derrama
nos azulejos da cozinha
quando bebo água no meio da noite.

Há sempre uns pingos da última chuva
pesando nas folhas,
virando breves cristais de sol
nas manhãs afobadas da minha pressa.

Há sempre o vento dando no alto das árvores,
e o barulho das árvores conta de um tempo que não volta,
mas que também não vai embora.

(Por falar em tempo, dona vizinha,
vamos conversando no caminho,
se não perderemos
o baile de inauguração da cidade)

*

https://www.youtube.com/watch?v=TkIY3KpRPiU&list=UUSRUDbqQLFfCRkOOwaH1gnQ

Tijolão

tijolão

Na época da Proclamação da República, a Rádio CBN tinha no Rio uma equipe que era formada por Marco Antônio Monteiro na direção de jornalismo;

Denize Ribeiro e Ricardo Rodrigues na chefia de reportagem;

Neise Marçal e Marco Aurélio na ancoragem local; Alexandre Caroli, Lise ChiaraLuiza XavierLuciano GarridoRicardo Ferreira, Ermelinda Rita, Sergio De Castro, Andréia Ferreira e Marcos Antônio de Jesus na reportagerm (me desculpa se deixei alguém de fora); na produção Adriana FrançaMônica Laplace e Eliane Galeno e nas carrapetas gente do mesmo nível dos jornalistas, como Cláudio Carvalho de Moura.

Este fim de semana, deparei com essa geringonça e bateu não só saudade, mas orgulho de ter feito parte de um dos melhores times do radiojornalismo brasileiro, que certamente ajudou a rádio que toca notícia (sim, esse slogan é eterno) a ser o que é hoje.

A gente entrava ao vivo com esse troço, muitas vezes no meio da pancadaria, e esse monstro era, ali por volta de 95, 96, uma revolução tecnológica pra quem até dois anos antes entrava no ar do orelhão ou tendo que pedir pelo amor de deus pra usar o telefone do açougue.

Meninos, eu Vi! E vivi! E como é gostoso ter estrada e história.

Combinemos: o problema é (só) a internet

Aguardando que minhas roupas lavadas sejam entregues, assisto na lavanderia durante uns cinco minutos a uma reportagem no telejornal local da TV Record, o que vai ao ar pela manhã, sobre duas alunas de uma escola de ensino médio do DF que foram filmadas brigando da saída da escola.

As imagens amadoras mostram um UFC feminino, versão Faroeste Caboclo.

Quando cheguei, as imagens estavam no ar. Quando saí, elas permaneciam na tela, se repetindo, indo e voltando ao início do vídeo.

Uma das meninas aplica golpes de artes marciais. A outra revida sem tanta técnica, mas com igual brutalidade.

Não há a menor inciativa por parte de quem filma de apartar a briga. O objetivo é claro: filmar as duas garotas se matarem – de preferência – e postar na internet para conseguir o número máximo de acessos possíveis.

E é justamente essa exposição das imagens na rede que recebe duras críticas do âncora ou de alguém que o acompanha na transmissão do telejornal.

‘Absurdo’ foi somente uma das palavras usadas para classificar a veiculação das imagens nas redes sociais. O compartilhamento dessas imagens na grande rede também foi duramente atacado da bancada do programa.

Claro, claro. O grande problema está na internet, pois, como se sabe, neste país  quase ninguém assiste a TV.

Meninas brigando

Coisas*

*Não necessariamente nesta ordem, e, em boa parte dos casos, algumas ao mesmo tempo

Rock’ n Roll – bem alto, pra aquietar os demônios.

Blues – para que a alma e as vísceras cantem e chorem.

Vinho (tinto) – na alegria e na tristeza, porque a vida é bela nas duas.

Chocolate amargo  – para depois do vinho.

Literatura – como defesa grito vômito coquetel antiloucura.

Livros – pra entender a realidade ou fugir dela (e prevenir  do Alzheimer).

Carros antigos – dirija um e saiba o porquê.

Camiseta calça jeans all star – para ter 15 anos sempre.

Velhos amigos – para se sentir com 15 anos sempre.

Filhas – para me sentir alguém realmente importante.

Sol – nos ombros no rosto dentro de mim.

Lua – no mar no jardim no sofá da sala escura no corpo dela nua.

Chuva – de repente e rápida ou vagarosa e o dia todo no meio da madrugada no fim da tarde na camiseta dela colada ao corpo.

Vento- pra voar sem sair do lugar.

Mar – pra ter saudades do cerrado.

Cerrado – Pra ter saudades do mar.

Rio – pra se sentir em casa, mas querer voltar pra Brasília.

Brasília – pra se sentir em casa, mas querer voltar pro Rio.

Língua – uma na outra e em outras partes.

Sexo – com tesão encanto paixão amor (nunca em hipótese alguma sem nenhum).

Marília Chartune
Leonid Afremov

 

Lua cheia

De verdade, de verdade mesmo, lá no fundo bem fundo, eu gosto mesmo é de quem muda quando é lua cheia.

Lua cheia

 

Aécio, Glauber, Monet e repórter que vira piada

No domingo de eleição comentei sobre a repórter que ficou cara a cara, ao vivo para todo o Brasil, com o Aécio Neves e se limitou a perguntar se a campanha tucana iria se intensificar a partir do dia seguinte. Perdeu a oportunidade de perguntar, por exemplo, se já nesta 2ª feira o postulante ao Planalto iria, por exemplo, atrás dos votos de Marina Silva.

Não quero pôr apenas na conta da repórter a oportunidade perdida de uma boa entrevista. O jornalismo de TV é feito por muita gente que fica atrás das câmeras – aliás, bem mais -, cuja função também é dar suporte e orientar quem está pelas ruas com microfone na mão. Se a repórter não foi mais pertinente, é possível que tenha sido também por falta de direcionamento partindo da emissora.

Mas é claro que lhe faltou, no mínimo, preparo e o chamado senso do que é notícia para que tivesse presença de espírito e arrancasse do candidato algo que o Brasil realmente precisava saber já naquele momento.

Meu comentário suscitou a lembrança de histórias cômicas sobre gafes de repórteres. Uma delas veio de  Márcio Varela, velho combatente das redações. A garota foi entrevistar a mãe do Glauber Rocha, Lúcia, mas disse que preferia esperar o próprio Glauber, pois não acreditava que aquela velhinha pudesse entender alguma coisa de cinema. Glauber já havia partido, e há muitos anos, para fazer cinema em outras dimensões.

Por minha vez, lembrei de uma que presenciei nos anos 90. Eu esperava a coletiva dos organizadores de uma grande exposição de Monet, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. Como estava demorando, uma repórter perguntou bem alto: esse Monet não vai vir falar com a gente não? Ao que uma outra não perdeu tempo e emendou: ah, essa gente só fala com a TV Globo.

Jornalista despreparado não atrapalha apenas o fluxo e a nitidez da informação, mas em alguns casos, como foi o deste domingo, pode mesmo impedir que a sociedade receba a informação.

E de quebra, às vezes, ainda vira piada.

repórter de TV

Rolar para cima