Top 10

1 – Qualquer manifestação contra preço e condições do transporte público no Brasil é necessária. Se esse transporte fosse melhor, você que está na sua Toyota Hilux não ficaria tanto tempo preso no engarrafamento.

2 – R$ 0,20 a mais na ida e na volta do trabalho, somados, ao final de cinco dias úteis, equivalem ao almoço de dois dias nos restaurantes populares do DF, por exemplo, uma das unidades da federação com o custo de vida mais alto. Mas nós, que compramos queijo cottage e peito de peru todos os dias, não temos como saber disso.

3 – Depredar patrimônio público é injustificável, mas é difícil que entre milhares não haja os porra-louca e até mesmo os infiltrados para implantar a baderna e jogar a sociedade – conservadora – contra os manifestantes.

4 – Eles não invalidam o movimento.

5 – Finalmente alguém entendeu que é muito cômodo ficar reclamando no feicibúqui, e foi pra rua viver a vida real.

6 – Qual o problema de os manifestantes serem jovens de classe-média? Prefiro eles nas ruas do que trancados nas academias, preocupados apenas com os bíceps e com a bunda. Quando minhas filhas crescerem, quero que elas coloquem a boca no trombone.

7 – Me dá sono a ladainha dos burocratas petistas do governo repetindo que tudo não passa de orquestração para manchar a imagem do Brasil lá fora.

8 – Repito: prefiro o pau quebrando ao marasmo classe-média com seu ingresso pro jogo do Brasil na mão.

9 – As manifestações fizeram a TV Globo parar um pouco de transmitir ao vivo o diário do Neymar.

10 – E por falar em Copa do Mundo, o Brasil lembra aquele sujeito que não paga o colégio dos filhos há quatro meses, mas comprou um carro de luxo em 96 prestações.

A bola murcha do rádio e do futebol

Minha paixão pelo rádio certamente nasceu quando comecei a acompanhar as transmissões das partidas de futebol por volta de 1975.

Meus locutores favoritos eram José Carlos Araújo (até hoje é) e os falecidos Jorge Cury, cujo um dos bordões era “Anotem teeeeeeeeeeeeeeeempo e placar no Maracaaaaaaaaaaaaaaa!; e Waldir Amaral: “Você, ouvinte, é a nossa meta! Pensando em você é que procuramos fazer o melhor!”.

Mas a bola do rádio esportivo parece que murchou. José Carlos ainda reina sozinho e não vejo – ou melhor, ouço – ninguém com muita pinta de que vá assumir o trono. Os locutores esportivos de hoje em dia não nos deixam mais com os nervos à flor da pele, com aquele modo de narrar que nos fazia achar que a bola já estava entrando, quando ainda nem passara da linha do meio campo. Ou , no caso de Waldir Amaral, justamente o contrário: a pelota já estava na rede e ele ainda narrava o passe pro gol. O que dava nos nervos do mesmo jeito.

Talvez a culpa não seja de meus ouvidos, muito menos dos narradores. É possível que venha de um certo desencanto que já há alguns anos nutro pelo futebol.

O que era uma espontânea expressão da identidade de um povo, cada vez mais se torna refém de uma sofisticada engrenagem financeira. Quase não se entrevista mais jogadores à beira do campo, então, não há mais um Dadá Maravilha para dizer que era um prazer jogar em Belém, “a terra onde Jesus nasceu”, segundo ele. Hoje as entrevistas têm que ser após o treino, de banho tomado, na frente de um painel lotado de marcas de patrocinadores.

É claro, o chato sou eu que não entendo que futebol é um negócio, como música, indústria de automóveis e fábrica de macarrão.

Mas quem suporta o Neymar 24 horas por dia na nossa frente, em todos as TVs que ligamos, em todos os lugares por onde passamos? E essa campanha para que a gente acredite que ele é mesmo esse gênio da bola e que vai salvar nossa medíocre seleção de um vexame em casa?

Tudo bem. Se pegarmos dez exemplares das antigas revistas Cruzeiro e Manchete, em pelo menos oito estarão ou Pelé ou Garrincha. Ou seja, a massificação não é de agora.

Mas hoje é muito maior, até porque existem muito mais formas de se massificar um produto, uma pessoa, um candidato a ídolo e a Deus.

E a vantagem de antigamente é que não tinha o Galvão Bueno.

É com o Z ou com S?

Meu nome é André Luis, embora nem eu mesmo lembre muito bem disso.

Durante toda a vida, e até hoje, fui obrigado a responder: seu nome é com Z ou com S?

Minha filha mais nova se chama Clarice. E agora, além de responder pela grafia do meu nome, tenho que deixar bem claro também: Clarice com C.

A dúvida das pessoas é filha das “desnecessidades” da Língua Portuguesa.

Qual a utilidade de Z e S desempenhando a mesma função? Precisamos de verdade de C e SS, se apenas um deixaria tudo resolvido? Decidir-se por apenas um em nada prejudicaria o uso da língua. Isso é tão certo quanto escrever criança com Ç. Pensando bem, qual a utilidade do Ç se já existe SS? E vice-versa.

A Tia Eni da primeira série diria que “ora! Há regras para a utilização dos fonemas”, mas acho que ela nunca pensou que aquilo que se ajeita simplificando dispensa regras.

O tal acordo (?) ortográfico de alguns anos atrás perdeu a oportunidade dourada de tornar nossa língua um instrumento prático de comunicação escrita, e não fonte de tormentos sem utilidade.

É que certamente foi fechado por quem não entende que ela não precisa se manter complicada para continuar bela.

A perigosa cafonice das festas country

A escola em que minhas filhas estudam decidiu que a festa junina de algumas turmas será festa country, com as crianças fantasiadas de cowboy, cowgirl ou com indumentária equivalente.

Ouço Rock’n Roll desde que me entendo por gente. Amo Blues e gosto um tanto de soul music e jazz. Adoro escritores americanos como John Fante. Portanto, nada contra a cultura americana.

Mas as festas juninas são uma das joias da coroa que é o nosso folclore, e folclore é uma espécie de cédula de identidade de um povo. Não se dispensa a nossa identidade para usar a dos outros.

Quem mora no Distrito Federal, no entanto, consegue entender essa queda cada vez mais acentuada pela cafonice das botas de salto alto, camisa xadrez, lenço no pescoço e cintos de fivela grande (que, aliás, resumem a cafonice).

O DF é um pequeno quadrilátero recortado num cantinho do estado de Goiás, e tanto aqui, quanto nas terras goianas, vive uma classe média/elite que, não obstante habitar uma das regiões mais belas do país, pensa que está (ou sonha estar) no Texas ou no Arizona.

São camadas da sociedade que mesmo favorecidas economicamente não têm acesso à cultura. E não têm por preguiça (entre as quais, a de ler), por indolência, por que preferem se empanturrar fácil com o conteúdo pasteurizado da mídia. Contentam-se com mero entretenimento raso.

Passando ao largo da cultura, não chegam nem perto do nosso folclore, e aí facilitam a invasão e a agressão de outras culturas à nossa, de costumes estranhos aos nossos. E é preocupante quando uma escola começa a aceitar, ou a nem perceber, essa invasão e essa agressão.

Faroeste Caboclo e ganância

Igualmente a outras cidades, Brasília é senhora de hipocrisias e demagogias.

A principal delas está ligada à histórica saga da construção da cidade. Portanto, é a mais antiga também: Brasília, capital da esperança!

A frase possui uma variante, ou quem sabe uma irmã mais nova e menos famosa: Brasília, capital de todos os brasileiros!

Poucas coisas no Planalto Central se revelam tão ilusórias como esses dois bordões cantados aos quatro ventos por poetas de deslumbramento alienado e versos enjoativos; por jornalistas e cronistas descomprometidos com a verdade nessa boa terra sim, mas não por causa do que prega essa propaganda enganosa, que não resiste à mais superficial das investigações.

Aos ufanistas, o convite que verifiquem os números da mais recente pesquisa do Instituto de Pesquisas Economicamente Aplicadas (IPEA). De acordo com o levantamento, o Distrito Federal é a única das unidades da federação onde a desigualdade social aumentou (http://migre.me/eRfJV )

E o que o filme Faroeste Caboclo, do cineasta Renê Sampaio, tem a ver com isso? De forma objetiva, a história de João do Santo Cristo, transportada da música de Renato Russo para as telas, comprova o estudo do Ipea e desmascara o desbunde cego, que não se liberta de um sonho de cidade que, definitivamente, não é para todos, não é sequer para muitos.

O filme se passa na virada dos anos 70 para os 80, mas qualquer morador mais atento sabe que ele acontece ao vivo todos os dias, ainda hoje na capital do país.

Por falar em Brasília e mudando de assunto para encerrar: levantamento do site G1 mostra que as diárias dos hotéis da cidade estão até 400% mais caras por causa da Copa das Confederações.

Parece que a ganância não se contenta mais em ser só ganância. Quer ser também irracionalidade. Ou pouca vergonha mesmo.

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