Bermuda e terno
A seleção da Argentina me lembra aquele sujeito que passou uns tempos mudado, diferente do jeito que todo mundo conhecia. Sempre andou de bermudas, mas do nada apareceu enforcado numa gravata e engomado num terno. Viu que não era mesmo a dele e tirou a bermuda outra vez do armário. É como se houvesse pretendido ser alguém que ele não é nem conseguirá ser. Desistiu, voltou a ser o cara que todos conheciam.
Não sei exatamente se a Argentina estava tentando imitar o futebol europeu, mas sei que pelo menos nas duas primeiras partidas da Copa jogou o autêntico futebol sul americano, detentor de nove títulos mundiais. Joga e deixa jogar, favorecendo com espetáculo aquele que deve ser o principal objeto de agrado de uma seleção: o público, o torcedor.
Sem nenhuma cerimônia, a Argentina mostra com exemplos que pode ser campeã do mundo, enquanto outras seleções – e é claro que me refiro à nossa – escondem a mediocridade atrás do enfadonho e superficial discurso da união do grupo, da raça, da determinação. Coisas que aliás não faltam também no time de nossos vizinhos.
Enquanto o Kaká se arrasta em campo mostrando que talvez não devesse nem ter sido convocado, o Messi prova a cada bola que pega e lança porque é o melhor jogador do mundo atualmente. Por sua vez, o Iguaín vai balançando as redes, ao passo que o Luiz Fabiano só consegue fazer o mesmo em comercial de cerveja. Aliás, nossos jogadores são artistas. Da Brahama, da Gilette.
A não ser que a imbecilidade de uma rixa fomentada pela mídia esteja mesmo acima do gosto pelo bom futebol, é impossível não aplaudir como a Argentina está jogando. Na verdade, bater palmas e lamentar logo depois o fato de nossa seleção, que sempre usou bermudas, andar ultimamente sisuda e vestindo um surrado terno marrom.